sábado, 29 de setembro de 2007

Polêmica: David Irving!


Mal inauguro o blog e já começo com uma polêmica. Alguém aí já leu David Irving? Quem é? É aquele historiador não-acadêmico britânico, que ficou pouco mais de um ano preso na Áustria em 2005-6, por ter feito uma conferência revisionista sobre o Holocausto, isto é, declarado que o genocídio praticado sistematicamente pelos nazistas durante a II Guerra Mundial não existiu. Na Áustria e na Alemanha, é proibido divulgar esse tipo de opinião, já que são os países que tem a maior carga de culpa na questão.

Entre os anos 60 e 80, Irving gozou de alta consideração da crítica especializada, estimado como o grande especialista sobre o lado alemão da Guerra. Além disso, era um best-seller nos países de língua inglesa. A partir de fins da década de 1980, Irving passou a se aproximar do time revisionista, o que começou a minar sua reputação como pesquisador sério.
A curiosidade me levou a procurar ler alguns de seus livros. No Brasil, foram publicados dois deles: A Destruição de Dresden, pela Nova Fronteira (sem data, mas aparentemente publicado já na década de 60) e A Guerra entre os Generais, pela Record (publicado em 1983). Desses dois, li o primeiro. Confesso que achei um saco. Irving detalha excessivamente os planos, as armas, as manobras dos aviões Aliados quando do pesado bombardeio praticado contra a cidade alemã em fevereiro de 1945. Não que eu ache que não se deva escrever sobre o assunto (como alguns acham), muito pelo contrário. Apenas não gostei de como ele o abordou.

Li também The War Path em sua versão em espanhol, disponível em pdf no próprio site de Irving (praticamente todos os seus livros estão disponíveis na íntegra no site, a grande maioria em inglês). O livro - em espanhol, El Camino de la Guerra - trata dos antecedentes do regime nazista para a II Guerra, isto é, entre 1933 e 1939. Já é melhorzinho, o texto flui de forma mais agradável.

Um incômodo: o texto, em geral, se refere a Hitler de forma positiva. Não que eu acho que se deva diabolizá-lo a cada parágrafo, como faz às vezes a imprensa, mas sentimos - da parte do autor - um excesso de admiração junto ao personagem e suas ações, o que provoca um certo mal-estar.

O principal "pecado": ao tratar da "Noite dos Cristais" (1938), Irving desculpa Hitler e o governo nazista, atribuindo os distúrbios a baderneiros sem qualquer vinculação partidária. É sabido que o governo nazista insuflou essa quebradeira geral contra lojas e residências judaicas em todo o país naquela trágica noite de novembro.

Apesar disso, alguns historiadores sérios ainda dizem que vale a pena ler Irving(com a devida cautela), como Norman Finkelstein e Christopher Hitchens. Irving tem uma habilidade muito grande em encontrar documentos e entrevistou pessoas envolvidas nos acontecimentos em questão que mais ninguém conseguiu se aproximar. Uma pena suas tendências ideológicas.

Ainda volto a falar de Irving.
O site dele: www.fpp.co.uk.

Rio Grande da Serra


Por trabalhar profissionalmente com a História local, estar atualizado com a bibliografia (sobretudo historiográfica) da região do ABC é uma necessidade para mim, não isenta de prazer. Acabo de ler "O Desenvolvimento Socioeconômico de Rio Grande da Serra", co-escrito pela ex-vice-prefeita da cidade, Maria Rita Serrano (São Paulo: Publisher Brasil, 2007). Comprei da própria autora, numa banquinha no IX Congresso de História do ABC, realizado em São Bernardo, em maio desse ano. O livro é baseado no trabalho de conclusão do curso de História de uma faculdade da região, feito por ela e mais três alunos.

Com 78 páginas, bem editado, o maior mérito do livro é o de ser o primeiro sobre a História de Rio Grande da Serra, o único município do ABC cuja trajetória não tinha sido contemplada em publicação do gênero. Situação muito diferente de cidades como São Caetano, que tem uma fundação que edita os próprios livros referentes a sua História - que creio que já se podem contar às dezenas - e ainda dispõe de uma revista semestral voltada para a memória do município, Raízes; ou Santo André, com livros de memorialistas ou publicações institucionais. São Bernardo também já publicou várias obras, e Mauá, Diadema e Ribeirão Pires, estão numa situação intermediária em relação às suas contribuições às próprias historiografias. Falarei oportunamente sobre isso num outro momento, sobretudo no caso de Mauá.

Voltando ao livro, sabemos bem das limitações de tempo e espaço dos TCCs, mas sentimos falta exatamente de um pouco mais de atenção à História propriamente dita. Poderiam ter sido consultados arquivos da região, como o Museu de Santo André e o Serviço do Patrimônio de São Bernardo, que tem um considerável material sobre a região, como jornais antigos e o importantíssimo Fundo Câmara; ou ainda, o Arquivo Público do Estado. Mas as questões fundamentais da existência do município são colocadas em pratos limpos: o problema da indústria química Solvay (Santo André fica com os impostos e Rio Grande com a poluição) e a vocação turística da cidade, a ser baseada no ecoturismo. Grande número de tabelas traduz em números os indicadores socioeconômicos da cidade, comparando-os com os outros municípios da região abeceana, e que mostram Rio Grande invariavelmente em último lugar em todos.

Um aluno meu, morador da cidade, disse que quem deveria ter escrito a História de Rio Grande deveria ter sido a Dra. Gisela Saar, memorialista da cidade, e principal fonte de Serrano para a parte historiográfica da obra. Verdade, mas isso não tira o mérito de Maria Rita, mesmo que ela more a poucos anos em Rio Grande e tenha nascido em Santo André.

Todos os encômios, portanto, à iniciativa de Maria Rita Serrano, com a qual ela preenche uma lacuna bibliográfica da região do Grande ABC, colocando um município pouco lembrado com seus problemas para o debate, o que é fundamental para um desenvolvimento sustentável da região.

Apresentação


Bem-vindos ao blog "Conversas com Clio", um espaço pessoal voltado para a História (daí o nome "Clio", a musa inspiradora da História, na mitologia grega), mas também a outros temas, como cinema, cultura, música, internet etc. Aqui pretendo comentar os filmes que assito, livros que leio, sites que navego, assuntos desenvolvidos em conversas com amigos e assim por diante. Comentários serão bem-vindos. Bom proveito e volte sempre!