sábado, 3 de novembro de 2007

Relato da Mostra II


Continuando o relato da Mostra:

Ainda na nota 3:
- O Novo Século Americano. Em princípio parece um pouco paranóica, mas a idéia central desse documentário italiano é a de que os mentores dos atentados do 11 de Setembro foram... membros do próprio governo americano! Não propriamente W. Bush, mas as mentes perigosas por trás dele: Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, dentre outros. Inclusive, Bush teria sido cuidadosamente afastado durante todo o dia 11, da Casa Branca, permanecendo em um abrigo “para sua segurança”. O motivo seria as mais que conhecidas invasões no Afeganistão e Iraque, onde, apesar de os soldados americanos estarem levando pau, muitos empresários fizeram a festa nessas terras que durante muito tempo ficaram sem lei nem rei (a rigor, ainda estaria assim para os negócios americanos). Esse recurso de auto-atentado seria uma recorrente na História americana, quando em busca de negócios excusos, como guerras e invasões difíceis de serem justificadas. Como disse em seu blog Luiz Zanin Oricchio, crítico de cinema do Estadão, “pode ser uma construção paranóica, mas coloca na mesa algumas verdades incômodas”. Só não dei 4 porque ele é meio arrastado em alguns longos momentos. Por exemplo, ao mostrar trechos de documentos oficiais.

- Tabu. Clássico do cinema mudo dirigido em 1931 pelos mestres F. W. Murnau e Robert Flaherty. História de amor à la Tristão e Isolda, em que um casal apaixonado de nativos da Polinésia francesa foge de sua ilha pois a moça foi requisitada pelo rei de outra ilha para ser uma de suas esposas. A organização da Mostra está de parabéns por ter colocado um pianista na sala de cinema, tocando a trilha sonora do filme, exatamente como na era do cinema mudo.

- Morte do Presidente. Este, apesar de nada ter a ver com o “Novo Século...” acima mencionado, poderia ser visto logo em seguida. O Presidente George W. Bush é assassinado a tiros em Chicago em outubro de 2007, em meio a uma grande onda de protestos pedindo, entre outras coisas, o fim da política militarista e expansionista de Washington. Há dificuldade em se identificar o assassino. Depois de alguns detidos, adivinhem quem é preso? Exatamente, um imigrante muçulmano! Só que, apesar de se descobrir quem é o verdadeiro autor dos tiros (que havia se suicidado poucos dias depois) e a inocência do réu, este continua preso... Trama fascinante em tom de documentário. As imagens de Bush e outras autoridades são verídicas e mostradas num excelente trabalho de montagem.

To be continued...


terça-feira, 30 de outubro de 2007

Relatório sobre a Mostra



Bom, eu pretendia fazer um diário da Mostra, mas não foi possível. Agora, há poucos dias de acabar o evento, faço um relato dos filmes até agora vistos. Dos quatrocentos e tantos filmes disponíveis, consegui ver doze, e pretendo ver mais três até o dia 1º (sem contar a repescagem, que começa dia 2). Pra mim, é um recorde: eu nunca vi tantos filmes numa única Mostra. E gostei do que vi até o momento. Vi alguns muito bons, a maioria simplesmente bons (o que não é pouco), e apenas um meio cansativo, mas mesmo assim, teve seu interesse. Conforme já havia dito, evitei os filmes de diretores consagrados, que creio passaram dentro em pouco no circuito comercial e logo depois estarão disponíveis em DVD.
No final de cada sessão, votávamos – com notas de 1 a 5 – em cada uma das películas, com uma folhinha que nos era entregue no início da sessão. Dos doze filmes que vi, votei 4 (muito bom) para quatro películas; 3 (bom) para sete; e 2 (regular) para um.

Vejamos:

Nota 4:
- Personal Che. O primeiro que vi já me causou ótima impressão. Conforme já havia anunciado, é um documentário sobre a utilização do ícone de Che Guevara em vários lugares do mundo, nas perspectivas mais insólitas. Um dos diretores, o brasileiro Douglas Duarte (putz, o cara é 2 anos mais novo do que eu!), estava lá no Unibanco Arteplex no dia. Uma seqüência de cortar o coração: Duarte, ao entrevistar um devota (sic) boliviana do Che – ou Santo Ernesto de La Higuera – perguntou se ela sabia que Che era ateu e tinha opiniões muito negativas em relação à religião. A camponesa – muito simples – que na seqüência anterior tinha ido levar velas no túmulo de Guevara (onde ele provavelmente ficou enterrado até seus restos serem levados a Cuba em 97), ficou com um olhar totalmente perdido, desconcertada.

- Condor. Documentário brasileiro excelente sobre a famigerada Operação Condor – em ação durante os anos 70 – criada pelas ditaduras do Cone Sul para troca de prisioneiros vistos como inimigos desses regimes. Foram entrevistados vários sobreviventes das prisões, ou seus parentes e, dentre os perseguidores da época, destaque para o ex-chefe da polícia secreta chilena, a DINA, Manuel Rodríguez (o qual chegou a dizer que faria tudo outra vez...).

- A Grande Liquidação. Na mesma linha de “The Corporation”, esse documentário alemão foca na privatização dos serviços públicos na última década em vários países, e os efeitos por vezes catastróficos de tais processos. Destaque para a seqüência da privatização da água (!) na Bolívia – tema também tratado em “The Corporation” – processo que foi revertido graças às manifestações populares que sacudiram a região de Cochabamba no início da década.

- O Cavaleiro Negro. Filme sobre a história do embaixador sueco no Chile, Edelstam, durante o sangrento golpe militar de Pinochet. Edelstam arriscou a própria vida ao salvar dezenas de pessoas da morte certa no tristemente célebre Estádio Nacional de Santiago, que se transformou num grande centro de tortura, em setembro de 1973. O embaixador chega a pedir pela vida de seis brasileiros que lá estavam, mas no dia seguinte um dos militares apenas lhe notifica que a execução já havia sido feita.

Nota 3:
- The Notorious Bettie Page (foto acima). Interessante cinebiografia da pin-up dos anos 50 Bettie Page. Moça ingênua vinda do Sul americano, protestante, abusada pelo pai na adolescência, termina seu casamento com um ex-colega de escola devido a maus-tratos. Segue para Nova York, onde se torna modelo de fotos e filmes eróticos (não-pornográficos), sobretudo na linha sado-masô, com couros e chicotes a granel. Ao longo do filme, toda hipocrisia da sociedade americana frente ao erotismo. A protagonista Gretchen Mol é muito carismática. Bela fotografia em preto e branco.

- Nanking. Documentário norte-americano sobre um tema bem pesado: a brutal invasão da cidade chinesa de Nanking pelos japoneses em 1937. Claro que é bom lembrar que os americanos sempre querem justificar – aqui indiretamente, claro – as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (embora não seja citado ao longo do filme). Mas é curioso como a brutalidade dos japoneses durante a II Guerra se equivale a dos nazistas: numa mesma temporalidade histórica, e sem ter sido uma reação a uma invasão brutal (como foi o caso dos russos no mesmo conflito). Pra se ter uma idéia do nível de crueldade a que os invasores chegaram, o episódio é também conhecido como o “Grande Estupro de Nanking”: os soldados, depois de render a cidade, ficavam entediados e estupravam as mulheres e matavam as pessoas, por diversão. Uma boa sacada do filme é que junto às imagens de arquivo (algumas terríveis) e aos depoimentos de sobreviventes e de ex-soldados japoneses, atores (como Woody Harrelson) narraram trechos de diários deixados por europeus e norte-americanos (sempre a visão do homem branco...) que viviam então na cidade, e criaram uma Zona de Paz, onde se refugiaram cerca de 200 mil moradores da cidade. Curiosamente, um desses europeus mais atuantes foi o alemão John Rabe, que pertencia ao Partido Nazista, mas fica horrorizado com tudo a selvageria dos invasores e faz de tudo para ajudar os chineses. Voltando a Berlim, ele conta tudo o que viu ao governo alemão, que o prende, e avisa: ele nunca deve contar o que viu em Nanking. Motivo: o Japão era aliado da Alemanha no Pacto de Aço, e juntos – mais a Itália – formariam o Eixo durante a II Guerra Mundial.

- Inteligência Militar e Você. Inteligente comédia (embora nem sempre tão engraçada) sobre os filmes que eram mostrados aos soldados americanos antes de seguirem para o front durante a II Guerra. E o grande barato do filme é esse: ele é montado como se fosse um desses filmes de treinamento! As melhores piadas ficam por conta do narrador, com voz empolada – típica da época – que também dispara farpas contra guerras americanas mais recentes, contra a própria arrogância americana. Em uma deixa, por exemplo, o narrador diz que o general do filme iria se reportar ao “mais poderoso líder do Mundo Livre: o Vice-Presidente dos EUA” (referência ao poder do atual VP Dick Cheney, com grande poder de decisão). Com fotografia em preto e branco, o filme segue o exemplo de “Cliente Morto Não Paga” (1983), no qual Steve Martin “contracena” com atores dos anos 40 como Humphrey Bogart, Alan Ladd dentre outros, através de recursos de edição e montagem. Neste “Inteligência...”, é feito o mesmo, e aparecem Ronald Reagan e Arthur Kennedy et caterva, em seus filmes de guerra. Enfim, a idéia é boa e, além de tudo isso, dá pra rir um pouco.

- Um Homem, Uma Mulher. Um dos filmes românticos mais conhecidos de todos os tempos, mais lembrado ainda pelo seu tema musical, de Francis Lai. Lançado em 1966 e dirigido por Claude Lelouch, trata de um casal de viúvos que se conhece durante uma carona que ele (Jean-Louis Trintignant) concede a ela (Anouk Aimée, lindo sorriso, rosto perfeito). Simpático, embora – isso é regra no cinema francês – arrastado em alguns momentos. Ah, sim: na primeira meia hora de filme há uma verdadeira ode ao Brasil: toda uma seqüência é cantada em francês a bela canção "Saravá" de Vinicius. São intercaladas imagens do casal (beijinhos, afagos etc.) com imagens da profissão de dublê cinematográfico do falecido marido (que canta). Um belíssimo clip avant la lettre.
Coloco os outros assim que terminar de ver os demais.

domingo, 21 de outubro de 2007

Uma ode ao Historiador

Não sou um versado pela poesia, mas algumas eventualmente chamam minha atenção. Entre Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, prefiro o primeiro. Contudo, brindo-lhes agora com esse poema de Drummond, chamado "O historiador":

“Veio para ressuscitar o tempo
e escalpelar os mortos, as condecorações,
as liturgias, as espadas,
o espectro das fazendas submergidas,
o muro de pedra entre membros da família,
o ardido queixume das solteironas,
os negócios de trapaça, as ilusões
jamais confirmadas nem desfeitas.
Veio para contar
o que não faz jus a ser glorificado
e se deposita, grânulo,
no poço da memória.
É importuno.
Sabe-se importuno e insiste,
rancoroso, fiel.”

Em breve, colocarei minhas favoritas do Bandeira.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Che e os neonazistas...



Fiquei encucado com essa relação entre o Che e os neonazistas: o que a imagem desse que é considerado um ícone libertário (não vou discutir aqui se é de fato ou não) está fazendo junto aos seguidores de Hitler? Não é uma incoerência?! Não aguentei esperar até ver o filme citado abaixo, e resolvi fazer o quê? Claro: procurar na net! Achei esta notícia num jornal argentino:


Trata-se do novo líder do Partido da Liberdade Austríaco (FPÖ - do polêmico Jörg Haider, lembram-se?), Hans Christian Strache, que fez uma brincadeira com seu nome: StraCHE, colocando uma efígie sua sobre a imagem consagrada de Che, na célebre foto de Alberto Korda. Ou seja, aqui também - assim como nas latas de cerveja - é o Che-golpe-de-marketing, e não o Che-político. Mesmo assim, pretendo ver o filme.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Finalmente, começou a Mostra!


Já teve gente que disse que meus posts têm sido um pouco longos. Na ânsia de escrever pequenos artigos, acabei demorando um pouco para postar. Antes de prosseguir a lista da Bravo!, quero falar um pouco da Mostra Internacional de Cinema de SP, atualmente em sua 31ª edição. Tendo acabado de divulgar a sua lista de filmes, é um dos grandes acontecimentos culturais do ano na Paulicéia.
Desde 1998, venho freqüentando a Mostra, que é uma oportunidade única de ver alguns filmes, pois muitos deles nunca passarão no circuito comercial nem sairão em DVD no Brasil. Muitos são documentários. E acho que esse é o principal papel do evento, apesar de muitos habitués irem ver pré-estréias de filmes que passarão no circuito dentro de algumas semanas ou meses. Pra quê, me pergunto? Mas, gosto é gosto...
Bom, já fiz uma lista de filmes que eu pretendo ver, que em grande medida não coincide com os filmes "mais esperados", conforme são divulgados pela mídia (normalmente, vencedores de festivais internacionais). Claro que acabarei vendo apenas uma pequena parte. Entre os mais curiosos, destaco: "A Morte do Presidente", um falso documentário sobre o assassinato do presidente note-americano George W. Bush; "O Novo Século Americano", documentário (verdadeiro) que defende a polêmica - e considerada paranóica - idéia de que os ataques de 11 de setembro de 2001 teriam sido perpetrados pel próprio governo norte-americano (!); só pela ousadia da tese, já vale a pena!; o português "Cartas a uma Ditadura", que a partir de uma coleção de uma centena de cartas de mulheres portuguesas escritas ao ditador Salazar, nos anos 50, todas elogiosas, mostram - em suas entrelinhas - o medo e a insatisfação popular de um ponto de vista feminino; "Personal Che", sobre visões atuais que se tem do líder guerrilheiro argentino em diferentes partes do mundo 40 anos após sua morte: santo na aldeia boliviana de La Higuera, onde foi morto; cultivado por neonazistas na Alemanha; pelo governo comunista cubano e por anti-comunistas de Hong Kong; sem falar na publicidade, tendo chegado a marca de cerveja no Reino Unido; "Across the Universe" (foto acima), musical ambientado nos anos 60, no qual todo o enredo é baseado em letras de músicas dos Beatles.
Ah, sim: há também espaço para os consagrados: os novos filmes de Michael Moore, Quentin Tarantino, Héctor Babenco (que está no cartaz oficial da Mostra), os irmãos Cohen e Manoel de Oliveira, dentre outros, que esperarei estrearem nos melhores cinemas (ou o lançamento em DVD).
A Mostra vai do dia 19/10 a 01º/11 e a programação está no site: http://www.mostra.org/.

sábado, 6 de outubro de 2007

100 Filmes Essenciais - A lista da Bravo! - 1




Volta e meia sai uma lista com os melhores filmes de todos os tempos. Listas de melhores são sempre polêmicas, seja de filmes ou de quaisquer outras coisas. A revista Bravo! lançou em agosto uma edição especial com os “100 filmes essenciais”. Foi feita a partir de outras listas dos 100 melhores de todos os tempos, de publicações como os Cahiers du Cinéma, o American Film Institute e o jornal New York Times, de modo que não tem grandes novidades. Eu mesmo não concordei com a inclusão (e a exclusão) de vários itens e com a disposição de muitos deles, mas acho um exercício interessante refletir sobre a relação. Dos 100, assisti 72, isto é, 72% das obras, o que não é mal. Vou fazer aqui um breve comentário de cada filme, mas considerando o espaço e a própria natureza do blog, não pretendo fazer “críticas” no sentido próprio do termo, o que pode ser encontrado em outros lugares. Vou dar uma visão pessoal, mais propriamente a primeira que me vier à cabeça, sobre o filme. Ah, sim: e partirei do fim pro começo, isto é do 100º para o 1º. Nesse primeiro post, listarei até o item 71. Ah, sim! Para facilitar o leitura, coloquei os filmes citados dentro dos verbetes em azul, os diretores em verde e os atores e atrizes em vermelho. Vamos lá!

100 – Lavoura Arcaica (2001). Presença nacional na lista. Não vi, mas tem sido muito elogiado. Pretendo ver.
99 – M.A.S.H. (1970). A impressão que tive ao ver foi de que eu estava assistindo um filme envelhecido. Crítica à Guerra do Vietnã, o filme é recheado de piadinhas de médicos mulherengos, que lembram filmes como Porky’s (1981), por exemplo. Custo a crer que seja o melhor de Robert Altman.
98 – Fargo (1996). Impactante, bom roteiro, mas... Dos irmãos Cohen, eu prefiro outros como A Roda da Fortuna (1994), Arizona Nunca Mais (1987), e até o mais recente O Amor Custa Caro (2003). Não é ruim, mas superestimado.
97 – As Invasões Bárbaras (2003). Interessante, mas como não vi o filme do qual esse é uma continuação, O Declínio do Império Americano (1986), sinto que perdi algo.
96 – King Kong (1933). Não vi, nem esse, nem a refilmagem de 1976, com Jessica Lange. Vi a mais recente, de Peter “Senhor dos Anéis” Jackson, mas aí é outra coisa.
95 – Operação França (1971). Gene Hackman é ótimo ator, William Friedkin é bom diretor (O Exorcista, 1974), mas não gosto desse thriller.
94 – Cabaré (1972). Musical bacaninha, sobretudo a parte dos números musicais propriamente dito. Destaque para a canção “Money makes the World Go Around”, com Joel Grey (ótimo, pai de Jennifer Grey, de Dirty Dancing – Ritmo Quente, 1987) e Liza Minelli.
93 – O Pântano (2000). Único filme da lista que eu nunca tinha ouvido falar, e também o único filme argentino, o que creio ser injusto para uma cinematografia rica como a deles. Aliás, a lista está muito pobre de cinema latino-americano, talvez pelo problema da distribuição. Ainda não vi, mas tem em DVD.
92 – Guerra nas Estrelas (1977). Considerado clássico infanto-juvenil, talvez eu tenha visto meio tarde o filme: já tinha mais de 25 anos. Chatéééérrimo!
91 – A Lista de Schindler (1993). Grande filme, o melhor de Spielberg. Ótima sacada a fotografia em preto e branco. Mas não sei é o melhor sobre o Holocausto.
90 – Um Convidado Bem Trapalhão (1968). Superestimado. O melhor é a música-tema de Henry Mancini, uma batidinha típica dos anos 60, com uma inesquecível introdução com cítara indiana.
89 – O Império dos Sentidos (1976). Polêmico, em geral muito bem cotado. A ver.
88 – Dogville (2003). Filmaaaaaço. Na meia hora inicial desanima um pouco, ritmo lento, com seu cenário teatral. Depois, história absorvente. No final, saí impactado!
87 – Sem Destino (1969). Interessante, mas mais como sinal de uma época.
86 – Fantasia (1940). Belo filme, idéia original, show para os sentidos. Mas não é dos meus favoritos.
85 – Ben-Hur (1959). Esse épico tem seus méritos. História forte, mantém o interesse. Bela trilha sonora, o filme tem seus fãs. Mas eu não sou um deles.
84 – Pixote – A Lei do Mais Fraco (1981). História forte, em todos os sentidos, bem ao estilo de Héctor Babenco. Talvez um dos melhores filmes do cinema brasileiro. Se não fosse tão deprimente, seria filme para ver e rever.
83 – Los Angeles – Cidade Proibida (1997). Boa história, bela fotografia, mas estranhei estar entre os 100. Enfim...
82 – Um Cão Andaluz (1928). O único curta da lista. Sem enredo, uma importante experiência estética.
81 – Os Homens Preferem as Loiras (1953). Não vi essa que parece uma daquelas antigas comédias que passavam na "Sessão da Tarde" (e deve ter passado mesmo). Único Howard Hawks da lista, o que é estranho. Onde estão o noir A Beira do Abismo (1946), o empolgante drama de guerra Sargento York (1941) e comédia bacaninha Levada da Breca (1938)? E os westerns, marca registrada de Hawks? Mas, como não vi esse item 81, calo-me!
80 – Cidade de Deus (2002). Grande filme. Pesado. Grandes atuações. Montagem sensacional. Merece com certeza estar entre os 100.
79 – Quanto Mais Quente Melhor (1956). Tido em geral como a melhor comédia de Billy Wilder, acho só razoável. Prefiro Se Meu Apartamento Falasse (1960) ou Irma La Douce (1963), só pra ficar na veia cômica.
78 – Brazil – O Filme (1985). Não costuma freqüentar as listas dos 100 melhores, o que acho uma injustiça. Cenário retro-futurista maravilhoso, fantástico. Talvez o melhor filme de Terry Gilliam (de As Aventuras do Barão de Münchhausen -1989 – e Os Doze Macacos -1995), o criativo desenhista do Monty Python.
77 – Kaos (1984). Não vi. Dos irmãos Taviani, vi apenas Bom Dia, Babilônia (1987), que é cosi, cosi; e A Noite de São Lourenço (1982) que é, putz, muito cansativo (apedrejem-me, cinéfilos!).
76 – Hiroshima, Meu Amor (1959). Filme denso, cansativo. Mas talvez mereça estar entre os 100. Do mesmo Alain Resnais, pretendo ver O Ano Passado em Marienbad (1961), conceituado.
75 – Amor à Flor da Pele (2000). Não vi. Único filme chinês da lista.
74 – Um Estranho no Ninho (1975). Jack Nicholson, como sempre, está ótimo. Belo filme de um bom diretor, o tcheco Milos Forman. Dele também são os bons Na Época do Ragtime (1981), O Mundo de Andy (1999) e O Povo Contra Larry Flint (1996).
73 – Um Lugar ao Sol (1951). Com Elizabeth Taylor no auge da beleza. Ainda não vi, o que para muitos cinéfilos é um pecado. Mas não me lembro desse filme ter saído em vídeo, e ainda não existe tem em DVD. Enfim, sem solução, por enquanto.
72 – Tudo Sobre Minha Mãe (1999). Curioso que antes eu não gostava do Almodóvar. Bom, vi Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), e não gostei. Detalhe: na época, eu tinha 15 anos. De fato, não é uma idade em que se possa apreciar o estilo do diretor espanhol. Gostei muito de Carne Trêmula (1997) e Volver (2006), mas este, o item 72 da nossa lista, não vi.
71 – Patton – Rebelde ou Herói? (1969). Sensacional interpretação de George C. Scott no papel-título, que mais tarde também brilharia como protagonista no telefilme Mussolini – A História Não Contada (1985). Com roteiro de Francis Ford Coppola, é um bom filme.




Continua...

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

7 de Outubro vem aí! E daí?!


Não, 7 de outubro não é o dia do meu aniversário. Nem de nenhuma celebridade – pelo menos que eu saiba. Essa é considerada a data máxima do integralismo, movimento político criado pelo escritor Plínio Salgado em 1932, e que teve certa vitalidade pelo século XX adentro, mobilizando grande e importante número de adeptos. Considerado em geral como uma modalidade brasileira do fascismo internacional, esse rótulo tem sido repudiado pelos seus militantes desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945, com a execração pública dos regimes de Hitler e Mussolini e de seus crimes. O integralismo foi o tema central de minha dissertação de Mestrado, defendido na USP em 2003.

Podemos dividir a História do Integralismo nas seguintes fases:
- a Ação Integralista Brasileira (AIB), o período de maior vitalidade, de 1932 a 1937;
- a fase da ilegalidade, durante o Estado Novo (1937-1945), em que muitos de seus militantes, assim como os de outros partidos políticos, foram perseguidos e presos;
- o Partido de Representação Popular (PRP). Com esse nome anódino, o integralismo voltou timidamente – embora não sem importância - ao palco político nacional no período 1945-65;
- depois de 1965, segue-se um período, digamos, de indefinição institucional. Muitas agremiações integralistas tem surgido e desaparecido desde então. Durante a ditadura militar (1964-85), a grande maioria dos integralistas politicamente ativa apoiou o governo. Nos anos 80 e 90, algumas tribos juvenis urbanas, como os “carecas”, adotaram a filosofia integralista. Do final dos anos 90 aos dias de hoje, a internet tem se tornado um fator aglutinante (mas também gerador de cisões) entre os novos integralistas, com a criação de diversos sites militantes.

O 7 de outubro, estabelecido como o da criação do movimento em 1932, foi a data de lançamento do “Manifesto de Outubro”, em que estariam as bases da doutrina integralista. A primeira vez que ela foi celebrada foi em 1934, em São Paulo, numa marcha de militantes uniformizados e com bandeiras da AIB, para comemorar os dois anos do movimento. Os manifestantes – homens, mulheres e crianças vindos de várias partes do estado e também do Rio de Janeiro - se concentraram às centenas na Praça da Sé, em frente à Catedral então em construção. Militantes da Frente Unida Antifascista (FUA) - comunistas, socialistas, anarquistas - vendo essa manifestação como uma “Marcha sobre Roma” em São Paulo, partiram para o confronto aberto com os integralistas. Alguns antifascistas subiram no edifício Santa Helena, ao lado da Praça, e começaram a atirar na multidão uniformizada. Seguiu-se uma verdadeira batalha campal. Aliás, a memória histórica consolidada chamaria esse evento de “A Batalha da Praça da Sé”, o que os integralistas negam: para eles, o fato foi uma simples tocaia. Estavam na refrega dois futuros e importantíssimos críticos de cinema, um em cada campo político: o integralista Almeida Salles e o comunista Paulo Emílio Salles Gomes. O futuro crítico de arte Mário Pedrosa, então militante trotskista, chegou a levar um tiro no traseiro. Várias pessoas foram mortas: um militante socialista, dois policiais, alguns transeuntes e dois militantes integralistas, Jayme Guimarães e Caetano Spinelli. Estes foram, logo em seguida, considerados mártires do movimento, e seriam lembrados nas manifestações nos anos seguintes.
O dia 7 de outubro passou a ser considerado uma data importante também para a esquerda brasileira: tornou-se o dia nacional da luta contra o fascismo (pelo menos, durante os anos 30). Há uma rua na Vila Carrão, também em São Paulo, que se chama 7 de outubro: provavelmente, uma referência a essa contenda. Quem a teria nomeado? Os integralistas ou os antiintegralistas?
Livros sobre o tema? Só existe um, escrito por um participante antiintegralista para celebrar os 50 anos do ocorrido: A Batalha da Praça da Sé, de Eduardo Maffei, editado pela Philobiblon.
Nos anos seguintes, os integralistas continuaram a celebrar a data, agora de portas fechadas, e de uma forma bem original: “a Noite dos Tambores Silenciosos”. Mas isso é tema para um outro post...