terça-feira, 30 de outubro de 2007

Relatório sobre a Mostra



Bom, eu pretendia fazer um diário da Mostra, mas não foi possível. Agora, há poucos dias de acabar o evento, faço um relato dos filmes até agora vistos. Dos quatrocentos e tantos filmes disponíveis, consegui ver doze, e pretendo ver mais três até o dia 1º (sem contar a repescagem, que começa dia 2). Pra mim, é um recorde: eu nunca vi tantos filmes numa única Mostra. E gostei do que vi até o momento. Vi alguns muito bons, a maioria simplesmente bons (o que não é pouco), e apenas um meio cansativo, mas mesmo assim, teve seu interesse. Conforme já havia dito, evitei os filmes de diretores consagrados, que creio passaram dentro em pouco no circuito comercial e logo depois estarão disponíveis em DVD.
No final de cada sessão, votávamos – com notas de 1 a 5 – em cada uma das películas, com uma folhinha que nos era entregue no início da sessão. Dos doze filmes que vi, votei 4 (muito bom) para quatro películas; 3 (bom) para sete; e 2 (regular) para um.

Vejamos:

Nota 4:
- Personal Che. O primeiro que vi já me causou ótima impressão. Conforme já havia anunciado, é um documentário sobre a utilização do ícone de Che Guevara em vários lugares do mundo, nas perspectivas mais insólitas. Um dos diretores, o brasileiro Douglas Duarte (putz, o cara é 2 anos mais novo do que eu!), estava lá no Unibanco Arteplex no dia. Uma seqüência de cortar o coração: Duarte, ao entrevistar um devota (sic) boliviana do Che – ou Santo Ernesto de La Higuera – perguntou se ela sabia que Che era ateu e tinha opiniões muito negativas em relação à religião. A camponesa – muito simples – que na seqüência anterior tinha ido levar velas no túmulo de Guevara (onde ele provavelmente ficou enterrado até seus restos serem levados a Cuba em 97), ficou com um olhar totalmente perdido, desconcertada.

- Condor. Documentário brasileiro excelente sobre a famigerada Operação Condor – em ação durante os anos 70 – criada pelas ditaduras do Cone Sul para troca de prisioneiros vistos como inimigos desses regimes. Foram entrevistados vários sobreviventes das prisões, ou seus parentes e, dentre os perseguidores da época, destaque para o ex-chefe da polícia secreta chilena, a DINA, Manuel Rodríguez (o qual chegou a dizer que faria tudo outra vez...).

- A Grande Liquidação. Na mesma linha de “The Corporation”, esse documentário alemão foca na privatização dos serviços públicos na última década em vários países, e os efeitos por vezes catastróficos de tais processos. Destaque para a seqüência da privatização da água (!) na Bolívia – tema também tratado em “The Corporation” – processo que foi revertido graças às manifestações populares que sacudiram a região de Cochabamba no início da década.

- O Cavaleiro Negro. Filme sobre a história do embaixador sueco no Chile, Edelstam, durante o sangrento golpe militar de Pinochet. Edelstam arriscou a própria vida ao salvar dezenas de pessoas da morte certa no tristemente célebre Estádio Nacional de Santiago, que se transformou num grande centro de tortura, em setembro de 1973. O embaixador chega a pedir pela vida de seis brasileiros que lá estavam, mas no dia seguinte um dos militares apenas lhe notifica que a execução já havia sido feita.

Nota 3:
- The Notorious Bettie Page (foto acima). Interessante cinebiografia da pin-up dos anos 50 Bettie Page. Moça ingênua vinda do Sul americano, protestante, abusada pelo pai na adolescência, termina seu casamento com um ex-colega de escola devido a maus-tratos. Segue para Nova York, onde se torna modelo de fotos e filmes eróticos (não-pornográficos), sobretudo na linha sado-masô, com couros e chicotes a granel. Ao longo do filme, toda hipocrisia da sociedade americana frente ao erotismo. A protagonista Gretchen Mol é muito carismática. Bela fotografia em preto e branco.

- Nanking. Documentário norte-americano sobre um tema bem pesado: a brutal invasão da cidade chinesa de Nanking pelos japoneses em 1937. Claro que é bom lembrar que os americanos sempre querem justificar – aqui indiretamente, claro – as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (embora não seja citado ao longo do filme). Mas é curioso como a brutalidade dos japoneses durante a II Guerra se equivale a dos nazistas: numa mesma temporalidade histórica, e sem ter sido uma reação a uma invasão brutal (como foi o caso dos russos no mesmo conflito). Pra se ter uma idéia do nível de crueldade a que os invasores chegaram, o episódio é também conhecido como o “Grande Estupro de Nanking”: os soldados, depois de render a cidade, ficavam entediados e estupravam as mulheres e matavam as pessoas, por diversão. Uma boa sacada do filme é que junto às imagens de arquivo (algumas terríveis) e aos depoimentos de sobreviventes e de ex-soldados japoneses, atores (como Woody Harrelson) narraram trechos de diários deixados por europeus e norte-americanos (sempre a visão do homem branco...) que viviam então na cidade, e criaram uma Zona de Paz, onde se refugiaram cerca de 200 mil moradores da cidade. Curiosamente, um desses europeus mais atuantes foi o alemão John Rabe, que pertencia ao Partido Nazista, mas fica horrorizado com tudo a selvageria dos invasores e faz de tudo para ajudar os chineses. Voltando a Berlim, ele conta tudo o que viu ao governo alemão, que o prende, e avisa: ele nunca deve contar o que viu em Nanking. Motivo: o Japão era aliado da Alemanha no Pacto de Aço, e juntos – mais a Itália – formariam o Eixo durante a II Guerra Mundial.

- Inteligência Militar e Você. Inteligente comédia (embora nem sempre tão engraçada) sobre os filmes que eram mostrados aos soldados americanos antes de seguirem para o front durante a II Guerra. E o grande barato do filme é esse: ele é montado como se fosse um desses filmes de treinamento! As melhores piadas ficam por conta do narrador, com voz empolada – típica da época – que também dispara farpas contra guerras americanas mais recentes, contra a própria arrogância americana. Em uma deixa, por exemplo, o narrador diz que o general do filme iria se reportar ao “mais poderoso líder do Mundo Livre: o Vice-Presidente dos EUA” (referência ao poder do atual VP Dick Cheney, com grande poder de decisão). Com fotografia em preto e branco, o filme segue o exemplo de “Cliente Morto Não Paga” (1983), no qual Steve Martin “contracena” com atores dos anos 40 como Humphrey Bogart, Alan Ladd dentre outros, através de recursos de edição e montagem. Neste “Inteligência...”, é feito o mesmo, e aparecem Ronald Reagan e Arthur Kennedy et caterva, em seus filmes de guerra. Enfim, a idéia é boa e, além de tudo isso, dá pra rir um pouco.

- Um Homem, Uma Mulher. Um dos filmes românticos mais conhecidos de todos os tempos, mais lembrado ainda pelo seu tema musical, de Francis Lai. Lançado em 1966 e dirigido por Claude Lelouch, trata de um casal de viúvos que se conhece durante uma carona que ele (Jean-Louis Trintignant) concede a ela (Anouk Aimée, lindo sorriso, rosto perfeito). Simpático, embora – isso é regra no cinema francês – arrastado em alguns momentos. Ah, sim: na primeira meia hora de filme há uma verdadeira ode ao Brasil: toda uma seqüência é cantada em francês a bela canção "Saravá" de Vinicius. São intercaladas imagens do casal (beijinhos, afagos etc.) com imagens da profissão de dublê cinematográfico do falecido marido (que canta). Um belíssimo clip avant la lettre.
Coloco os outros assim que terminar de ver os demais.

5 comentários:

Unknown disse...

A Gretchen Moll... eu a definiria menos como "carismática" e mais como "supersexy". Ela é uma loira de verdade, do tipo que instiga e depois fica ruborizada.

E olhe que geralmente prefiro as morenas! Mas essa "loira aguada" é mulher mesmo, de verdade, genuína, caliente, bem diferente das loiras fake e/ou siliconizadas e/ou atléticas mecanizadas que são impingidas pela mídia.

Um simples olhar da Gretchen Moll e você sente que a sua medula está derretendo... Pelo menos costumava ser assim, nos filmes que eu vi.

Mudando de assunto: "Vivre sa Vivre" é um dos filmes mais estranhos que já vi. Incrivelmente brega, vazio. Incrivelmente charmoso, romântico.

Exala um perfume barato porém carregado de feromônios... Possui uma graciosidade romântica difícil de imitar, porque o sentimento bobo que acalenta é verdadeiro.

Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant parecem amantes de verdade, do tipo que pode não dar certo (e o segundo filme, 20 anos depois, atesta que o casal se separa), mas sempre estão ligados intimamente um ao outro, não importa quanto tempo estejam separados ou que divergentes estradas tenham escolhido.

A música do Francis Lai é antológica. Não importa se você gosta ou não gosta. A música pega e prende, como cola. Francis Lai "fazia o filme", como se ele fosse o autor e o diretor. Era um gênio do romance, da euforia tola e inconseqüente, da poesia de se estar apaixonado. Pena que esse gênio brega e incompreendido das trilhas de filmes seja tão pouco lembrado e reconhecido hoje em dia.

Unknown disse...

Corrigindo o comentário anterior:

Onde se lê "Vivre sa Vivre", leia-se "Un Homme et una Femme"!!

Esse "lapso" deve-se à minha admiração pela música de Lai. "Vivre sa Vivre" tem um dos mais bonitos e originais temas românticos que eu já ouvi, com uma entrada insólita de notas "subindo e despencando" vertiginosamente, tocadas ao cravo! E notas repetidas e marteladas desenhando uma linda dança melodiosa!!

Conversas com Clio disse...

Curioso! Onde vc tinha visto a Gretchen Moll? Primeira vez que a vejo (e muito prazer em conhecê-la!!)... Mas talvez por seu personagem ter um ar ingênuo, não a considerei supersexy. Eu a achei carismática, por ser muito sorridente a ponto de me cativar; sem deixar de ser sexy!

Unknown disse...

Corrigindo outra gafe:

O nome correto é Gretchen Mol. Um "l" só.

Nem me lembro mais de qual foi o primeiro filme em que vi essa deusa loira (ou ruiva? suspeito que ela já foi ruiva). Pessoalmente não a considero uma das mais belas entre as belas, mas mesmo assim acho que a Gretchen tem um "it" extrapolativo, um tipo de beleza que se baseia mais na presença sensual do que na correção artística das formas do corpo ou das linhas fisionômicas.

Rebolativa ou forçada ela não é. É isso o que me atrai nela. Na Gretchen Mol, parece que a gente encontra uma mulher espontânea, ninfo, um indefinível que mistura algo de germânico com latino, como se ela fosse mestiça (não sei nada sobre a linha de sangue dela).

Tenho um fraco por mulheres vesgas. A Gretchen "é disfarçada" pelas câmeras, mas eu sei que ela é bem vesguinha.

Também gosto de mulheres que enrubescem. E de mulheres que sorriem com os olhos. Gretchen Mol parece que implora para sorrir até quando está chorando.

Seus olhos "procuram o interlocutor". Ela pede que prestemos atenção a ela, pede que gostemos dela. É perfeita para filmes românticos, principalmente os românticos aquecidos ou os thrillers passionais.

"Forever Mine" é um bom filme para se ver o lado mais ousado, óbvio. Mas eu acho que a Gretchen Mol é o máximo em qualquer filme, em qualquer cena em que não a escrachem. Em "O Décimo Terceiro Andar" ela é linda, rouba todas as cenas, porque é impossível deixar de olhar para ela.

Conversas com Clio disse...

Olha, Dagoberto!

(É verdade, eu fui na sua de "Moll": afinal, "Mol" tem mais charme...) Curioso, nesse filme ela é morena. Procurei no Google uma fotos dela, e de fato, em várias delas ela está loira. Mas, morena ela é bem mais interessante (como em geral são as morenas, aliás...), hehehe!