quinta-feira, 4 de outubro de 2007

7 de Outubro vem aí! E daí?!


Não, 7 de outubro não é o dia do meu aniversário. Nem de nenhuma celebridade – pelo menos que eu saiba. Essa é considerada a data máxima do integralismo, movimento político criado pelo escritor Plínio Salgado em 1932, e que teve certa vitalidade pelo século XX adentro, mobilizando grande e importante número de adeptos. Considerado em geral como uma modalidade brasileira do fascismo internacional, esse rótulo tem sido repudiado pelos seus militantes desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945, com a execração pública dos regimes de Hitler e Mussolini e de seus crimes. O integralismo foi o tema central de minha dissertação de Mestrado, defendido na USP em 2003.

Podemos dividir a História do Integralismo nas seguintes fases:
- a Ação Integralista Brasileira (AIB), o período de maior vitalidade, de 1932 a 1937;
- a fase da ilegalidade, durante o Estado Novo (1937-1945), em que muitos de seus militantes, assim como os de outros partidos políticos, foram perseguidos e presos;
- o Partido de Representação Popular (PRP). Com esse nome anódino, o integralismo voltou timidamente – embora não sem importância - ao palco político nacional no período 1945-65;
- depois de 1965, segue-se um período, digamos, de indefinição institucional. Muitas agremiações integralistas tem surgido e desaparecido desde então. Durante a ditadura militar (1964-85), a grande maioria dos integralistas politicamente ativa apoiou o governo. Nos anos 80 e 90, algumas tribos juvenis urbanas, como os “carecas”, adotaram a filosofia integralista. Do final dos anos 90 aos dias de hoje, a internet tem se tornado um fator aglutinante (mas também gerador de cisões) entre os novos integralistas, com a criação de diversos sites militantes.

O 7 de outubro, estabelecido como o da criação do movimento em 1932, foi a data de lançamento do “Manifesto de Outubro”, em que estariam as bases da doutrina integralista. A primeira vez que ela foi celebrada foi em 1934, em São Paulo, numa marcha de militantes uniformizados e com bandeiras da AIB, para comemorar os dois anos do movimento. Os manifestantes – homens, mulheres e crianças vindos de várias partes do estado e também do Rio de Janeiro - se concentraram às centenas na Praça da Sé, em frente à Catedral então em construção. Militantes da Frente Unida Antifascista (FUA) - comunistas, socialistas, anarquistas - vendo essa manifestação como uma “Marcha sobre Roma” em São Paulo, partiram para o confronto aberto com os integralistas. Alguns antifascistas subiram no edifício Santa Helena, ao lado da Praça, e começaram a atirar na multidão uniformizada. Seguiu-se uma verdadeira batalha campal. Aliás, a memória histórica consolidada chamaria esse evento de “A Batalha da Praça da Sé”, o que os integralistas negam: para eles, o fato foi uma simples tocaia. Estavam na refrega dois futuros e importantíssimos críticos de cinema, um em cada campo político: o integralista Almeida Salles e o comunista Paulo Emílio Salles Gomes. O futuro crítico de arte Mário Pedrosa, então militante trotskista, chegou a levar um tiro no traseiro. Várias pessoas foram mortas: um militante socialista, dois policiais, alguns transeuntes e dois militantes integralistas, Jayme Guimarães e Caetano Spinelli. Estes foram, logo em seguida, considerados mártires do movimento, e seriam lembrados nas manifestações nos anos seguintes.
O dia 7 de outubro passou a ser considerado uma data importante também para a esquerda brasileira: tornou-se o dia nacional da luta contra o fascismo (pelo menos, durante os anos 30). Há uma rua na Vila Carrão, também em São Paulo, que se chama 7 de outubro: provavelmente, uma referência a essa contenda. Quem a teria nomeado? Os integralistas ou os antiintegralistas?
Livros sobre o tema? Só existe um, escrito por um participante antiintegralista para celebrar os 50 anos do ocorrido: A Batalha da Praça da Sé, de Eduardo Maffei, editado pela Philobiblon.
Nos anos seguintes, os integralistas continuaram a celebrar a data, agora de portas fechadas, e de uma forma bem original: “a Noite dos Tambores Silenciosos”. Mas isso é tema para um outro post...




3 comentários:

Grandeirmão disse...

Adicionado aos meus Favoritos. Visite também http://namanhaqueuvou.blogspot.com

Unknown disse...

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah, Renatô! 07 de outubro é aniversário da Thaís!

Conversas com Clio disse...

Ah, é?! Sim, acho que me lembro de ela ter me dito... Então desculpa a falha!