segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O Labirinto do Fauno


Fiquei surpreso com “El Laberinto Del Fauno”, do mexicano Guillermo Del Toro. Filme ambientado na Espanha pós-Guerra Civil, sobre uma ainda pouco conhecida resistência anti-franquista, mais exatamente referente à brutal repressão contra essa resistência. Ah, sim: há alguns ingredientes de uma atmosfera à la Harry Potter - que parecem um pouco deslocadas no filme - daí seu título. E daí a minha surpresa: achei que a História – a com “H” maiúsculo - seria um mero pano de fundo, quando, para Del Toro, fantasia e realidade têm pesos, no mínimo, equivalentes.


Comecei a ver o filme com uma certa má vontade. Porém, a minha impressão inicial começou a se desfazer no momento em que o oficial franquista esmaga impiedosamente com uma garrafa o nariz de um jovem camponês que ele acreditava ser um guerrilheiro. Definitivamente, isso não é um filme infanto-juvenil! No trato do objeto histórico, Del Toro deixa tudo às claras: o regime franquista e seus algozes são vilões inequívocos, e sua simbologia é explícita: um dos carros da oficialidade tem na porta, bem visível, o emblema da Falange Espanhola. Em outro momento, em que os soldados distribuem comida e mantimentos para os camponeses, estes os recebem em sacos de papel com as cores da Espanha imperial, enquanto ouvem um discurso de que no regime de Franco “não faltará pão”.


Nesse sentido, “Labirinto” segue a maioria dos filmes sobre a Guerra Civil e o franquismo, em que é evidente uma luta do bem (republicanos, esquerda, democracia) contra o mal (fascismo, franquismo, tirania). Totalmente diferente, por exemplo, do surpreendente - e ligeiramente incômodo - “Soldados de Salamina” (2003), de David Trueba (e, como “Labirinto”, com a mesma belíssima Ariadna Gil), que opta por um ponto de vista próximo da conciliação dos dois lados em luta. É a Espanha – tanto na história de Del Toro quanto no de Trueba - purgando seu século XX através da película, o que tem gerado filmes interessantíssimos.


A maior contribuição historiográfica do filme é justamente a que se refere a essa guerrilha. O ano é 1944. Na Espanha ainda traumatizada pela Guerra Civil, esta havia acabado cinco anos antes. Na Europa, a II Guerra vive momentos decisivos: em junho, acontece o Desembarque da Normandia, vaticinando que a queda do III Reich é questão de tempo. A guerrilha espanhola acha que, com Mussolini e Hitler, cairá também Franco. Ledo engano. Tendo mantido uma aparente neutralidade durante a Guerra, os Aliados não molestam o regime franquista, que, após 1945, apenas passa a sofrer um embargo, dado seu fascismo incômodo e fora de lugar(ou de época). Durante o período de isolamento, a guerrilha prossegue, até que em 1953, no jogo da Guerra Fria, a Espanha é vista como um interessante aliado anti-comunista (adotando o ditado “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”). A partir daí, a resistência perde força e cai no esquecimento.

Um comentário:

Unknown disse...

A garota da foto é a Isabel Verdú?

Se for ela... caramba, como está magra!

Mudando de assunto: refiro-me ao título, "O Labirinto do Fauno". Parece que para muitos é extremamente conveniente não encontrar a saída do labirinto!

Mudando de assunto: revi no TCM "As Sete Faces do Dr. Lao". Um filme interessante, com alguns bons momentos.

E o HBO está ou esteve exibindo "Borat!".