segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Borat 1 - A comédia


Wa-wa-wee-wah! Embora saiba que tenha ofendido muita gente de bom gosto por aí, confesso que me amarrei tremendamente no filme Borat: O Segundo Melhor Repórter do País Cazaquistão Viaja à América ("Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan"). De humor algumas vezes duvidoso e até constrangedor, o filme é ambicioso (chegou a provocar uma pequena crise internacional) e tem ótimas sacadas - não apenas humorísiticas. Na verdade, há tanto a dizer sobre essa pérola que resolvi dividir o comentário em três textos: neste primeiro, vou falar sobre sua comicidade; no segundo, sobre os aspectos lingüísticos (sic!); e no terceiro, sobre o seu lado politicamente incorreto. Vamos lá!

O humor de Cohen é muito diferente dos maiores cômicos da História do audiovisual britânico, o sexteto Monty Python (que também não eram nenhuma unanimidade). Quem não tiver uma sensibilidade para a sua veia crítica (muitas vezes ácida), vai vê-lo como uma simples sucessão de grosserias de caráter sexual e escatológico, o que, de resto, não é uma temática exclusiva do humor ruim, sendo encontrado nos grandes clássicos da comédia universal, como na comédia grega e em Molière, por exemplo. O problema da baixaria no humor é quando ela é um fim em si mesma, como nos Todo Mundo em Pânico e American Pie da vida. E esse não é o caso de Cohen.

Talvez a seqüência mais engraçada do filme sejam os primeiros minutos, quando ele apresenta sua aldeia e o seu modus vivendi. Desde a abertura do pseudo-documentário, com sua música de fundo folclórica (ótima), a apresentação do suposto atraso tecnológico da aldeia (ponto alto: o cavalo puxando o carro em que ele parte para ir para a América), a apresentação de seus hobbies e a cobertura da “corrida anual do judeu”, como uma espécie de farra do boi até sua chegada ao aeroporto de NY. Ah, sim: o nome do vizinho mal-humorado de Borat é Nursultan Tulyakbay: uma combinação dos nomes do presidente do país Nursultan Nazarbayev e o do político da oposição, Zharmakhan Tulyakbay.

A caracterização do personagem Borat Sagdyev é certamente o melhor de tudo: sotaque pseudo-russo, falado num mau inglês (e a dublagem em português ficou melhor do que o esperado), sua ingenuidade e seus preconceitos, sua versatilidade corporal, o bigodão ao estilo árabe são uma combinação hilária por si só. Apesar de ter uma educação de homem das cavernas, uma mentalidade medieval – ele é misógino, anti-semita e anti-cigano – ele tem todo um jeitinho de cara legal, que faz a gente torcer pra que ele se dê bem. Seu companheiro de viagem, o produtor Azamat Bagatov (vivido pelo armênio-americano Ken Davitian) com seus traços de mercador sírio-libanês (segundo o estereótipo) completa o brilho das caracterizações “cazaques”.

Outras partes ótimas: a compra do carro na agência, em que ele diz ao vendedor estar procurando um veículo que tenha um pussy magnet (literalmente, “imã de xoxota”); quando ele canta o (falso) hino do Cazaquistão no ritmo do hino dos EUA, num festival country; quando eles jogam dinheiro para duas baratas, por acharem que elas são um simpático casal de judeus transformados, que os está hospedando, e estaria (segundo eles) tentando envenená-los; as aulas de etiqueta, num casarão do Velho Sul; e o “casamento” com a atriz Pamela Anderson. As legendas em alfabeto cirílico, como se fossem parte do documentário da TV cazaque, dão um toque levemente delicioso ao filme. E é bom lembrar: com a exceção de Borat, Davitian, Pamela Anderson e uma atriz que faz uma prostituta, ninguém no filme é ator ou atriz. Afinal, é um “documentário”, não?

Nenhum comentário: